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A exposição Memória da arte na Guerra é de criação de Eugene Gumira, um artista canadense de origem rwandense. Nesta exposição Gumira fez uma composição de três séries fotográficas intituladas Geração Deportada, Da Kar Rapid e Água Incolor. A composição fotográfica revela o olhar do artista para aspectos da vida cotidiana no Senegal. Os objetos retratados nas séries fotográficas - cadeados, portas, ônibus, restos do mar - são vistos como símbolos das memórias referentes as atividades humanas.
Gumira, como seu mestre Viyé Diba, outro artista senegalês, destaca o saber fazer do meio ambiente de Dakar: o trabalho dos alfaiates, costureiras, pintores, trabalhadores de chapas, carpinteiros, e todas as habilidades do povo. Em outras palavras, reconhece a inteligência das mãos dos diversos profissionais senegaleses.
A série Da Kar Rapid é um exemplo destas tecnologias quando fotografa os ônibus coletivos da cidade de Dakar, conhecidos como Car Rapid. Estes carros velozes fazem parte do ambiente urbano e, visualmente, é uma obra de arte em si, assim como se tornaram um símbolo da capital senegalesa. A série de Gumira exibe cenas do embarque de estudantes, de homens e mulheres em direção ao trabalho, etc.
Para Viye Diba Car Rapid é a representação da cultura urbana e mostra a habilidade do povo em se apropriar de um objeto importado, neste caso, o carro. Nas palavras de Viyé Diba “As melhores instalações estão nas ruas, como o povo se coloca sob as calcadas e como as calçadas tornam se espaços econômicos. Ao olhar o Car Rapid é visível a questão da apropriação, visível a questão da identidade africana. Os Cars Rapides parecem ser uma forma de conquista do Tempo.”
Entre o abstrato e o figurativo, arte de Gumira ainda centra-se em eventos traumáticos na África e em outros lugares, como é possível observar em sua obra sobre o genocídio dos tutsi em Rwanda (em vídeo), bem como na série Geração Deportada, que faz referência as portas, cadeados e células da Ilha de Goree. A ilha foi um dos maiores centros do comércio de escravos do continente.
Por fim vale dizer que Gumira enxerga a poluição vivenciada pela cidade de Dakar também como um evento traumático, um desastre, como uma questão que pode ser resolvida pela própria população de Dakar, se ela mudar sua mentalidade e políticas de reciclagem. Na série Agua Incolor nota–se que a natureza e, paradoxalmente, detritos produzidos pela população são reinvestidos em recursos pictóricos para criar uma interpretação artística envolvente.
Janeiro de 2019, Porto Seguro (Bahia)
Maria Aparecida Oliveira Lopes
Professora da Universidade Federal do Sul da Bahia.
Foto da Exposição "Dakar Rápid" de Eugène Gumira.
Foto da Exposição "Dakar Rapid" de Eugène Gumira
Making of da montagem da Exposição "Memória da Arte na Guerra", de Eugène Gumira.
Making of da montagem da Exposição "Memória da Arte na Guerra", de Eugène Gumira.
Making of da montagem da Exposição "Memória da Arte na Guerra", de Eugène Gumira.
Imagem Ilustrativa:
Ano:
2019